quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Vida de Cigana


Cada um tem uma história para contar. Uns moraram e estudaram sempre no mesmo lugar. Outros já viveram parte de suas vidas em outros países. Alguns sequer nem mesmo tiveram a oportunidade de estudar. Posso dizer que fui uma pessoa privilegiada, pois já morei em onze cidades diferentes e estudei aproximadamente em sete escolas, sem contar as universidades e as inúmeras residências em cada cidade, dentro do Brasil, é claro, sempre para trabalhar, estudar ou acompanhar meus pais quando ainda pequena.
Isso que aconteceu comigo proporcionou coisas boas e coisas ruins para a minha vida, como em qualquer situação. É claro que tantas mudanças na vida de uma pessoa exigem uma grande capacidade de adaptação e uma necessidade constante de buscar novas amizades. A cada mudança de cidade sempre tudo é novidade: o colégio, a casa, os professores, os vizinhos, o clima, os colegas e os amigos. E, o maior problema é que, quando estamos bem adaptados, vem uma notícia de uma nova mudança. E daí começa tudo novamente. Na verdade, a gente acaba não criando vínculos e referências com lugar algum, se tornando cidadã do mundo.
Deve ser por isso que sou um pouco cigana, nômade. Não acho que isto seja um mérito, pois afinal não me deixou uma pessoa melhor ou pior por causa disto. Mas acredito que a minha personalidade foi influenciada por tantas e tantas mudanças. Vejo isto com muita naturalidade e sempre tive uma sensação boa quando penso no assunto “mudança”. Mudança de casa, de lugar dos móveis, de carro, de cidade, menos de família! Tenho muita facilidade em fazer mudanças. Ser assim nos dias de hoje é muito bom pois, afinal, não encontramos muitas dificuldades na adaptações que o mundo nos apresenta e não temos receio de enfrentar o mundo lá fora. E, ainda por cima nos tornamos pessoas mais experientes.
Mas analisando sob outro ponto de vista, dificilmente eu lembrarei quem foi a minha primeira professora, meus primeiros colegas de classe, meus amigos de infância, exceto alguns que eram de minha cidade natal os quais nos encontrávamos sempre, não vivenciei a tradição em meu estado, e ainda fiquei com uma inquietação de estar sempre mudando, o que deixa minha vida um pouco instável, mas cheia de novidades.
Não me arrependo de nada, mesmo porque o tempo que passou não volta mais. Mas, digo com certeza que, no final, sempre dá tudo certo. A gente se adapta, faz novas amizades, dentro das particularidades de cada região, e ainda por cima tem a grande oportunidade de conhecer novos lugares e novas culturas, que dificilmente em outra situação aconteceria.